terça-feira, setembro 13, 2005

7

Adoro estes finais de semana prolongados. Começam na quarta-feira a noite, após o futebol. E terminam somente na madrugada de domingo. O tão esperado fim de semana chegou. E não podia ter começado melhor. Existem sonhos em formato carne e osso. Disso eu tive certeza hoje. Amor a primeira vista. Não posso mentir. Pude ver com meus próprios olhos o projeto de pessoa que sonhei em ser meu par. E pretendo fazer com que isso se realize. Linda. Linda para sempre. Isso que é o melhor.

Quando você acha que gosta de alguem. Ou que não gosta de ninguem. Sempre aparecem umas pessoas para por a sua duvida em jogo. E hoje eu cai do muro. Existem sim pessoas que tocam as outras com muito pouco. Não quero mais falar disso. Não será fácil tirar da memória. Apenas o oi. E o sorriso no oi. Mais uma vez agradeço a Deus pelo dia. E que venham melhores.

Acordo antes das dez horas da manhã. É sábado.Não estou na minha cama. Dormi na casa de um amigo para facilitar a viagem. Vamos para São Paulo. Mal consigo abrir meus olhos. O sono impera. Mas não tem como ficar com sono quando se está indo viajar. Então é bom acordar. Acordar e buscar os amigos. E depois começar a viagem. Literalmente a viagem.

Entro no carro e coloco um cd. A música é especial. Lembra alguem especial. Começo então o dia especial ouvindo uma música especial. E percebo que me encontro em uma tremenda confusão. Mulheres. Meninas. Amores inventados, platônicos e irreais. Cada um da sua forma e com seu valor. E o amor verdadeiro? O amor correspondido? Esse eu ainda não encontrei para vender.

Continuo a procura. Já que São Paulo é uma cidade grande, quem sabe eu encontre lá um amor. Quem sabe?

Vamos devagar. Sem pressa. A pressa não leva a coisas boas. Paramos naqueles restaurantes de estrada. Tomar uma Coca-Cola. Ir ao banheiro. Posso dizer que a ida ao banheiro foi mesmo engraçada. Relembramos a época de nossos pais. E pé na estrada. Pois o destino final ainda estava longe.

Passamos o limite de municipios. Não estamos mais em Santos. Não estamos mais em casa. Agora podemos ser diferentes. Não devemos nada para ninguem. Não conhecemos ninguem. Então não vou deixar de fazer nada. Nada.

Mal chegamos à São Paulo e começam a aparecer as diferenças de uma cidade para uma metrópole. Carros importados. Lojas gigantescas. Bingos que me fazem pensar que estou em Las Vegas. Restaurantes diferentes. Restaurantes? Tinhamos combinado de comer em uma pizzaria. O único problema é não imaginar onde teria uma. Em uma cidade gigantesca, a dificuldade para achar seria gigantesca.

Seria grande a dificuldade se não estivessemos no nosso dia. Mas como estavamos, foi só pensar na pizzaria que logo apareceria uma em nossa frente. E apareceu. Confesso que não consegui pensar muito. A fome era grande. A coincidência também. E os olhos azuis da recepcionista me deixaram sem falar por pelo menos cinco minutos. Se meu amigo não perguntasse se eram lentes, eu juraria que eram. Mas ela não teria porque mentir. Lindos olhos.

Parece que não estou mais no Brasil. Tudo diferente. Não entendo nada. Não quero entender mesmo. Apenas peço a pizza e mato a fome com prazer. Depois peço a sobremesa e mato o prazer com prazer. As pessoas ao redor parecem estar impressionadas. Será que nunca viram alguem feliz? Talvez este seja o lado ruim das grandes cidades. A dificuldade de achar alguem menos sério. Alguem vivendo pelo prazer de viver.

Vamos passar o tempo no shopping. E que shopping. Chego a me perder dentro dele. Muitos andares. Muitas lojas. Quanto tempo sem passear por um shopping. Acho uma livraria gigante. Megastore. Vou tomar um café.

Café tomado. Vontade de ir embora. Parada obrigatória no banheiro, antes da volta ao carro. Saio do banheiro vendo as coisas diferente. Ouvindo diferente. Normal. Já passa.

Começamos a procurar a saída certa. Vamos lembrando das lojas que passamos em frente, e assim voltando ao ponto de partida. Foi difícil mas conseguimos. Ainda bem.

Ibirapuera. Última parada obrigatória antes do show. O dia já esta perfeito. E ainda temos o show. É muita coisa para o mesmo dia. Vamos descansar para ir para o show com a alma em par com Deus.

Verde. Chegamos ao encontro com o verde. Ibirapuera. Árvores, mais árvores. E verde. Muito verde. Skate. Violão. Não. O violão hoje não participará. Perdeu uma corda no caminho. Será diferente da outra vez que fomos. Um parque com o objetivo de descansar. Andar de skate. E esticar os ossos. Deito na primeira grama que vejo. Deito e pego a boina.

Quando levanto vou andar de skate. Nossa, muito bom fazer isso. Nem pareço ter vinte e dois anos. Que bom. Mais longe de morrer. Fico andando bastante tempo. Mato a saudade para ela não me matar. E vou andando. Bem pior que antes é verdade. Mas o necessário para renovar a alegria. Erro a manobra e perco o equilibrio. Para não cair me apoio em um cartaz no ponto de ônibus. Adote um sonho está escrito. Porque essas coisas acontecem comigo? Só queria saber o porque.

O fim de tarde vem chegando e vamos nos preparando para a batalha final. Chegamos cedo a porta. Vamos entrando no ritmo do ambiente. Bonito ambiente. Pessoas bonitas. Interessantes. Vou procurar minha mulher.

Em uma rápida olhada pela fila não me empolgo. Acho mesmo que minha mulher já é conhecida. Resta apenas deixar o tempo passar. E quando a hora vier vou comprar centenas de fogos de artifício para comemorar.

Vamos a um bar na rua ao lado. Tomar uma cerveja. Um copo ao menos. Matar a sede. E manter a loucura. Mais um boteco para a lista de bares visitados. Me sinto em casa. Apesar de não me lembrar do nome do bar. Queria voltar logo para a fila. Não queria perder uma possível chance de encontrar um amor.

Pedimos a conta e voltamos à fila. É. A hora chegou. A fila começa a andar. E anda rápido é verdade. Me faz lembrar anos atrás. Era um pensamento de vida para mim. A fila anda. Não tem andado. Mas anda.

Entramos no show. Faltam algumas horas para começar. Pegamos nosso lugar bem em frente ao palco. Encostado na grade para ser preciso. Sentamos, pois esperar de pé cansa.

As pessoas começam a entrar. Começa a encher. Muitas mulheres. Algumas meninas. E algumas param bem ao nosso lado. Parecem ser legais. Não são do tipo sonho de consumo. Mas na ocasião não seria uma má idéia. Começo a me arrepender em ter bebido apenas um copo no bar.

Chegam mais pessoas. E mais meninas. Três param atrás de nós. Não sei se estou mal dos olhos ou as meninas se beijavam. Não as três. Duas. Então vou olhar para a outra que está sozinha. Não sei porque fiz isso. Acho que achei a pessoa. Morena. Sorriso perfeito. Olhos perfeitos. Por tanto, perfeita. Depois da troca de olhares, prefiro não olhar mais para não perder a razão. E não deixar a emoção me levar.

Penso em pedir um beijo seu. Vou esperar uma das músicas que eu gosto para fazer isso. E a música assim vai passar a ter razão. E eu vou passar a ser o mais feliz.

O show começa. Não falo mais com ninguem. Nem ninguem com ninguem. Fico prestando atenção no show. E olhando para o lado. Fico no aguardo de tocar três músicas. Quando uma das três tocar, vou falar no ouvido dela como eu faço para ganhar um beijo. E se ela rir, ou falar que não sabe, darei o beijo. E se ela falar que eu tenho que fazer algo, não sei o que fazer para conquistar a mulher mais bonita do show. E talvez falando isso ela fique sem graça e eu consiga. Mas e se ela falar que tem namorado? Ou namorada?

O tempo passa. Começa a primeira música das três que eu aguardava. Logo a que eu mais gosto. Ela me faz pensar em amores passados. Então seria bom mudar essa história e passar a pensar em um novo amor. Mas me falta coragem. A música termina e nada.

Começa a próxima música. Outra das três. Morena.

É verdade que essa música já me lembra outra pessoa. Mas a morena do show é ela. Não estrago a música. Não faço nada. Guardarei para o final. Guardarei para o vencedor.

O erro foi ai. Guardar para o final, para a música que mais lembra alguem. Uma pessoa que acabei de ver pela primeira vez, não pode ter maior valor que um amor. Mas se eu fizer por mim. Em comemoração ao dia, ao show. Ser eu o vencedor. Sem pensar em mais ninguem.

O show termina. Tudo que foi pensado ficou somente em pensamento. Tudo que foi visto ficou na memória. Não tiramos fotos. Ficou guardado tudo na memória de quem estava lá. E hoje, após acordar, tenho que admitir estar com saudades de ontem. Poderia ter sido melhor. Poderia ter sido diferente. Mas de nenhuma forma seria pior.

Sinto que preciso ver Efeito Borboleta novamente. Não aprendi a lição que pequenas atitudes mudam o destino. Poderia ter mudado ele para melhor nesse fim de semana. Ou então, devido a atitudes tomadas, mudar o que eu penso sobre um futuro bom. Sobre os sonhos a serem realizados com pessoas reais. É muito difícil pensar assim. Você nunca sabe quando acerta e quando erra.

Pé na estrada. Lar doce lar. Último alvo do fim de semana. Comer. Comer e depois tomar um ar perto da praia. Se não fosse o sono, até tomariamos o ar na praia. Mas com o sono não dá para brincar. E depois de comer a única coisa que consigo lembrar é da minha cama. E das chances perdidas.